domingo, 14 de novembro de 2021


 


No quarto grande, quatro paredes fecham-se no silêncio, ali permanece um retiro espiritual. Apenas uma das paredes tem quatro quadros alinhados representando a maternidade. Um pouco de si vive em cada um dos quadros. Sempre que se deita à noite, olha especialmente para um deles, mãe e filho pintados num azul tão profundo quanto a ternura que os une. Destes quadros, um outro com uma bailarina clássica, não recorda porque o escolheu, talvez a elegância e a serenidade da bailarina tenha sido a opção da escolha . Hoje ao olhar para aquela parede branca onde apenas os quadros cruzam consigo olhares, sentiu que a arte, essa sim, é um escrevinhar de sentimentos seus nunca partilhados.
Por baixo dos quadros, a cama, indispensável decoração para descansar o cansaço. À noite, uma única sombra coabita com a ténue luz que ilumina o corpo desajeitado num profundo e doce bailado onde os quadros ousam dialogar momentos...






Célia M Cavaco, In DESVIOS