sábado, 21 de setembro de 2019




Se morresse amanhã,meus olhos certamente estariam encerrados porque a minha alma se haveria de encarregar dessa missão.Só ela me deixará composta perante todos os sóis e luas que virão se despedir de mim.A alma,ou o espírito,que deixem o meu corpo no primeiro barco que assome à madrugada,já que de noite deixarei o meu perfume nesse corpo que foi meu,nada restará de mim senão um papel escrito pela minha mão tremula na despedida quando ainda o sol entrou pela janela para iluminar de brilho a minha alma leve pela despedida.Encontrarei pelo caminho novo outras vidas,outras cores,outras de mim esperando o meu retorno, talvez com a mesma alma noutro corpo.Sem testamento feito,deixo nada porque nada tinha,apenas deixo a saudade de quem de mim gostou.O meu colar de pérolas que sempre ma acompanhou há-de esperar pelo meu regresso,os meus livros hão-de estar guardados algures até que os possa reaver.Tudo é nada,tudo é certamente certeza se acreditar que a morte é só um virar de página.No primeiro dia de Outono serei uma das primeiras folhas a cair da árvore que sobreviverá até que o encontro seja possível. De mim,saberão que o primeiro pingo de chuva será certamente a única lágrima que chorei sem que tenha havido  despedida desse amor que foi a única flor que deixei plantada no coração feito de saudade. "A morte,é só a curva da estrada"

Célia M Cavaco,In MOMENTOS ECOLÓGICOS