sábado, 28 de setembro de 2019



Diário: Dia,Primeiro e último

É hoje! De hoje não passa,quero ir para além das minhas possibilidades,não materiais,mas em ousadia. Sei que me favorece a timidez,mas,é apenas uma capa exterior,por dentro fervo e queimo com facilidade;uma qualidade que poucos reconhecem em mim.
És tu,meu querido diário,o meu amigo secreto,guardo-te com a chave dourada que comigo trago ao peito,ouves todas as minhas tristezas e muitas alegrias. Sabes que tenho dias em que me apetece arrancar folhas antigas,como fui capaz de confidenciar-te tantos disparates,não gosto de ver as palavras borradas a tinta de lágrimas,por isso,as folhas mais antigas colaram-se num absoluto segredo,assim to exigi,assim espero que cumpras a tua função.Sabes o quanto gosto de dialogar em forma de escrevinhar no final do dia,muito à tardinha,quase no chegar da noite quando nos encontramos nos nossos silêncios,apenas interrompidos pelo som da caneta de aparo oferecida pelo meu amigo especial,sempre que pego na caneta lembro-me do encontro desse primeiro dia. Que susto levei quando  se apresentou com passos firmes e cadenciados,trazendo as mãos atrás das costas caminhava que nem um oficial em dia de parada militar. Já eu,santo Deus,senti-me como um manequim sem montra,fiquei de imediato com a sensação que nenhum de nós esperava algo semelhante e seriamos somente amigos para a vida. Ele um  cavalheiro,eu de saia preta rodada com bolinhas brancas,os sapatos;como eram altos...a finalizar,como não podia deixar de ser os brincos de pérola.Acho que fazem parte de mim desde sempre,tal como tu meu querido diário fazes parte do meu percurso de adolescente até hoje nesta idade que nada importa a não ser o envelhecer da folha desta nossa essência de vida.
Hoje acordei com a sensação de  que seria a última página a escrever; este contar de escrita já vai longo. Os meus dias estão cada vez mais curtos,ou o tempo escurece mais cedo.Sabes que perco os óculos com facilidade,os meus olhos perderam juventude,já o olhar,mantém  a vivacidade de antes,ávido de querer ver o mundo como quando da primeira vez onde te confidenciei o primeiro dos muitos sonhos. O primeiro foi querer ser feliz...hoje ainda procuro entender a felicidade que tanto desejei.De tudo tive e tenho,até o impensável,mas,a felicidade,procuro-a como se fosse hoje o primeiro dos desejos. Quando falo e escrevo nesta nossa intimidade contradigo-me,perdoa a esta minha insatisfação.Alcancei essa felicidade que desejei,mesmo sabendo que ainda hoje a quero mais completa. Querido diário,perdoa-me este escrever desencontrado e cheio de coisa nenhuma. A felicidade que tanto sonhei, é a mesma que todos os dias me acorda,é ela que me faz diferente agora que começo a contar quantas folhas faltam para escrever um final feliz e fechar com a chave de ouro o quanto me acompanhaste nesta forma predestinada onde te contei o melhor e o pior dos dias de todo um tempo que já passou  e começa a ser história. A vida é um ir e vir; Até sempre!



Cecília Vicente,Ecologia Emocional



Imagem:Pixabay