terça-feira, 8 de janeiro de 2019



Passado estes dias dou por mim a desejar um natal só meu. Um natal numa cidade pequena onde todos se reconhecessem,onde a vizinhança participasse no enfeite da árvore de natal comunitária.Onde o aroma dos bolos de canela e gengibre aguçassem a gula dos dias que hã-de rechear a mesa farta de cheiros e paladares(...) Os que chegassem para que o natal deixasse de ser solitário.Partiram uns,regressam outros,ninguém ocupa o lugar de ninguém para matar essa saudade sem norte de todos os natais.
Um natal musical, pelas ruas da cidade,os desejos abençoados pela nostalgia de outros natais. Não esquecendo a chaminé de todos,o cheiro da madeira que arde,os afectos embrulhados no aconchego dos abraços a distribuir. Os laços dourados,as cores do São Nicolau,Pai Natal ou Menino Jesus,tanto por onde escolher.A estrela a pendurar no pinheiro enfeitado,bolas,luzes,laços,presépio...cada casa com seu uso. A mesa engalanada,os armários esvaziam-se de todo o esmero guardado.As loiças do enxoval,a toalha bordada,o croché da avó nos cestos do pão,as rendas nos guardanapos,a janela iluminada para orientar quem pode chegar atrasado.Um Natal imaginário...
Um Natal que sonho em nuvens de algodão pelo sono do sonho onde aqueço a minha infância. Um Natal meu,um Natal de utopia. Apenas um Natal contado por uma avó na história de um livro de criança adormecido no mundo onde  os  sonhos têm brilho de estrelas...Um Natal onde pudesse aquecer a saudade de outros tempos à roda de uma lareira esperando a estrela guia para a missa do galo.





Célia M Cavaco,In Desvios