sábado, 19 de janeiro de 2019




Há dias assim...
dias quentes que de repente se tornam frios.Um frio húmido que deixa o corpo inerte pronto para dizer adeus...
Adeus,palavra fria e medonha,não gosto da palavra adeus,no entanto faço um gesto que significa adeus, gesto de uma despedida simbólica, um até já,ou até,amanhã...
Há dias assim...
solitários,envelhecidos,com a agravante chuva por companhia,pelos vidros das janelas as gotas escorrem caminhos,de rosto colado olho o outro lado,frio,cinzento de dias assim...
Nos dias assim,nada apetece senão deambular pisando repetidamente o chão da casa,descalça,os dias assim fazem estremecer o corpo já antes frio,mais frio sente porque nos dias assim a solidão é tão solitária que nem a chuva consegue fazer companhia no seu adágio de uma possível goteira no outro lado da janela que não a minha,mas, a outra da frente,a da casa vazia,que nos dias assim fica silenciosa,morta de personagens,viva pela goteira que canta ping...ping...ping...dou por mim a contar as gotas que repetidamente fazem um musical nestes dias assim,sou mera espectadora,observadora do outro lado de dias assim, mas diferentes, ainda semelhantes e pertença do ano que passou.Um inverno com chuva, de dias assim... iguais que me deixam sonâmbula de gestos que não sei fazer senão quando acordo e ouço a chuva a chamar por mim. HÁ dias assim...




Célia M Cavaco,In Desvios