terça-feira, 7 de fevereiro de 2017





Todos nós já tropeçamos mas não chegamos a perder o equilíbrio evitando assim um desaire doloroso .Existe um instinto de sobrevivência,caímos com uma certa elegância ou espalhámos-nos ao comprido. Não há como evitar, não se escolhe o tipo de queda porque tudo é um mero percalço de circunstância.Levado à letra é como abrir a boca antes do tempo e sair asneira,ou na elegância do salto, torcermos o pé dando uma queda livre num salto em comprimento.Airosamente olha-se para ambos os lados para ter a certeza que ninguém assistiu à dita queda ocasional.Gemendo, sem dar parte de frágil, dá-se um retoque no cabelo,alisa-se a saia e...até chegar a um lugar de conforto diz-se um ou outro palavrão sem consequências para a feminilidade imaculada. O palavrão inocente é somente um jeito de aliviar a dor alucinante.Pessoalmente acho que caí somente duas vezes desde que me lembro na minha vida de adulta.Em criança não me era permitido cair,alguém ameaçava com a célebre frase: Se cais apanhas,o melhor mesmo era caminhar que nem uma princesa.Foi aí,penso eu, que comecei dar asas à minha imaginação.Cair jamais,olhar em frente e marchar é caminho .Até aqui estava a falar da queda,aquela que magoa o joelho e rasga as meias...
Mas existe o tropeçar, o cair nos percalços e ratoeiras da vida.É inevitável,ninguém pode ficar impune aos meandros do dito destino, digo eu, que até nem acredito que ele o destino marque dia e hora.Há dias, deitada numa cama sem poder mexer-me olhei para a janela onde o Tejo dava ar de sua plenitude com as luzes da ponte a iluminar aquele espaço minúsculo.Atordoada, sem poder falar, ouvi um alarme tocar...alguém se aproximou falando algo incompreensível, e muitos mais se aproximaram sem que eu entendesse o que quer que fosse. Apenas a janela me chamava a atenção,um pátio húmido e feio com quatro palmeiras enormes, 
chamava a atenção,um pátio húmido e feio com quatro palmeiras enormes, que sem saber como lembrou-me a partida do Vasco da Gama para a Índia.Numa janela térrea duas meninas iguais faziam gestos iguais como que a dizer: Sai da janela que podes cair,ainda assim, fiquei a olhar do alto do sexto andar para o pátio feio e triste.Alguém me deu a beber algo amargo,outros gesticulavam e mexiam nos tubos que me mantinham monitorizada. As meninas impacientes continuavam a gesticular gestos,foi quando me apercebi que era eu mesma dividida em duas.Uma de mim estava deitada longe da janela. A outra de mim olhava da janela para o pátio.Não caí porque alguém me proibiu de avançar para o corredor que dava para o pátio que me pareceu um túnel...sem luz.Acordei depois de ter assustado muitos dos que estavam de serviço naquele dia,naquela hora. Num tempo sem perceber o que era real e o que era imaginação tentei essa fronteira ténue que nos separa ou nos aproxima de um lugar alternativo...














Célia M Cavaco / Desvios