domingo, 29 de maio de 2016



Não tenho tempo,o meu tempo está cada vez mais limitado Cresci com medo do tempo,vi pessoas desaparecerem, e num sussurro de vozes dizerem, chegou o tempo dele ou dela. Custou-me crescer com este sentimento incompreendido .Um dia, o tempo bateu à porta, apercebi-me que esse tal tempo é meu e de outros também.É como um prazo de validade numa embalagem bonita e perfeita, que de um dia para outro fica machucada,quebrada, sem reparação possível. Foi uma semana de tempos e lugares.Tranquilizei a mente com a Ave Maria de Schubert como se procurasse a oração que deixei arrumada num tempo de memórias. Passaram dois anos,daqui a algum tempo fará a distância de três anos de uma ausência maior,talvez a que ainda hoje me faça sentir a solidão que procuro para te sentir perto.Neste tempo,guardo o que deixarei para ser recordada sem magoar ninguém. Tempo é partida,ausência de uma presença que permanece. A janela aberta deixa entrar o sol, brisa de aromas,tempo de primavera onde os jacarandás enfeitam o olhar deste tempo que sei só meu até ao final de uma estação qualquer...





Célia M Cavaco / Desvios






Foto: Célia M.