domingo, 31 de outubro de 2021


 


Era uma casa pequena caiada de branco, com uma barra azul escuro. Em volta, uma cerca de madeira pintada de branco e azul, um azul parecido com a água do rio que passava ao lado, o céu também era azul, por isso a água do rio era azul. A menina  com mania de que era sabichona dizia, és mesmo parva, a água não tem cor.
Silenciosa falava de si para si, pois sim... cá para mim tudo tem a cor que eu quiser. Guardava para si as cores com que queria ver tudo à sua volta, até mesmo quando chorava as lágrimas  no lenço branco tinham cor verde claro tom de esperança. Não se preocupava em gastar as cores que guardava numa caixa de cartão, uma caixa que encontrara num amontoado de papeis, a caixa estava ao abandono, olhou, pensou, vai servir para guardar todos os meus lápis de cor, era com eles que coloria todos os dias o seu dia a dia. Não havia má disposição que a incomodasse desde que pudesse colorir a tristeza em em tons de raios de arco íris.  Desenhava casas, era o que mais gostava de desenhar, quando começava a desenhar acrescentava-lhe árvores de frutos, uma igreja, e, muitas casas faziam uma aldeia, não que conhecesse como seria uma aldeia já que morava na cidade grande. Mas a sua casa caiada de branco com uma barra azul escuro, com uma cerca e uma porta  pintada de branco como a nuvem que desenhava no seu céu azul, tudo isto fazia parte do seu imaginário, era como se um dia tivesse morado naquela casa, o rio azul tinha nas suas águas calmas, um ganso branco, junto à cerca  que rodeava a casa havia muitas flores amarelas, flores do campo, tal qual imaginava  que haveria na sua aldeia. Curiosamente, não havia muita gente  por perto, a não ser um cão preto e fofo de tanto pelo tinha, dera-lhe o nome de Joly, cão brincalhão e ternurento sua única companhia. A igreja mantinha a porta fechada, o sino nunca tocara para a missa do final de tarde, mesmo as aves regressavam silenciosas às intocáveis árvores de fruto. Tudo na aldeia era silêncio, a sua imaginação era tão solitária quanto a sua aldeia. Tal como ela sonhava, um dia, a sua aldeia seria pintada com os seus lápis de cor, a diferença, é que só possuía as cores do arco íris.
Quando a imaginação  lhe desse liberdade criativa haveria de encontrar novas cores, talvez quando crescesse o seu mundo que não só a aldeia, tivesse azuis, verdes, amarelos alaranjados e todas as cores que pudessem colorir a diferença do seu mundo, da imaginação à  realidade separava-a a caixa de lápis de cor e o crescer da sua aldeia que nunca chegou a conhecer...








Célia M Cavaco, In DESVIOS