Chegam de longe pássaros que trazem horizontes de outros lugares,
trazem com eles lugares onde a podridão era paisagem, pássaros feridos pela morte onde o céu e a terra não tinha lugar para pousar o canto e a alegria do bater de asas numa flor ou numa árvore para criar vida. Tornaram-se pássaros errantes, tal qual o fogo que iluminava o céu por onde passavam sem haver crianças no mundo antes arco-íris. Nada que os fizesse fazer ninho, nada onde as asas colorissem o céu na tarde já tardinha quando as janelas antes coloridas agora desbotadas pela falta do humano homem que criara laços e juntara família. Os afectos davam cor às cortinas de outrora, agora Janelas sem alma, olhares sem margem para visualizar a beleza do anoitecer, dum outro dia de esperança... Nada mais resta aos pássaros que regressarem à continua procura do que antes existia em novas paisagens. No voo das aves, os pássaros vestem -se de negro como presságio da desgraça...Aqui e ali, mundo sem beiral nem primavera anunciada, de passagem um inverno sem esperança. Os humanos juntaram-se aos pássaros; Uns e outros por caminhos diferentes, muitos num mar sem ondas deixam-se navegar até à ancora prometida. Vozes e cores, gente de muitos lugares tal qual os pássaros feridos perdidos à procura de um só lugar onde as árvores possam abrigar sons primaveris e risadas de crianças, beirais onde os pássaros possam fazer ninho, lugares de esperança onde o chilrear prometa vida...
Célia M Cavaco, In DESVIOS
Arte:Pejac