Abrir um blog de poesia, nada de especial. Mas um blog onde se pode escrever palavras, momentos a partilhar, é um atrevimento, que poderá ser uma ousadia. A minha, onde por instantes viro uma suposta página do meu livro.
segunda-feira, 12 de outubro de 2015
Moro perto de um rio,um rio que todos os dias me encanta,me fascina pelas suas cores matinais,onde o nascer do sol ilumina as águas frias e os barcos se houver nevoeiro dão aquele toque triste como um choro de birra na falta do sol. À noite, aquela água do meu rio veste-se de gala,prateada de braço dado com a lua dão à pista de dança um mar chão nas tranquilas águas do rio.É o rio dos meus amores. Acho que até sou ciumenta por achá-lo atrevido a dar-se de amores a outros e a outras...
Ah,se eu pudesse baptizá-lo com outro nome que não Tejo,que é o seu nome ,eu chamar-lhe-ia o rio da minha vida.Tantas vezes me baptizei nas suas águas ora quentes ora frias que o julgo meu por direito.Há noites que o procuro para me enamorar nos nossos silêncios partilhados. Os meus segredos e pensamentos são ali lavados na água que chega ao mar. O oceano Atlântico onde ganhei a liberdade de me tornar independente de menina, a mulher adulta com liberdade de escolha nos meus actos. Depois,encontrei-me com outro amor mais maduro,mas também mais intempestivo, o oceano Indico, o oceano de paixões,de temperamento doce,terno,mas de um amor eterno.Queima,entranha-se,difícil esquecer aquele baptismo,é como aderir a outra religião,e começar a acreditar nos Deuses.Como todas as histórias,tudo tem um princípio,a Ria Formosa,onde aprendi a nadar forçosamente para conseguir chegar à margem sem beber os famosos" pirolitos". Só não sou filha de pescadores,mas sou filha da água que me tem acompanhado toda uma vida,quase meio longa,porque a vida não tem distância,tem sim duração de permanência.Talvez um dia,eu venha a permanecer eternamente diluída nas águas que sempre me receberam e baptizaram o meu corpo.Talvez um dia,eu faça parte integrante dessa imensidão do mar...
Célia M Cavaco / Desvios
