sábado, 8 de agosto de 2015




Se eu partir,que as palavras não sejam escassas,fluam na sensibilidade com que as escrevi.Que o silêncio seja de ouro, e nele possas ouvir o que antes falei por gestos.Que a minha onipresença seja a alegria constante em brisa de afectos.Se eu partir,as estações do ano, serão lembradas no diário das noites quentes de verão sentada no terraço da lua,onde o suor era a camisa de noite. 
Se eu partir,as gavetas fechar-se-ão com a saudade dos dias e das horas.Que as minhas roupas sejam o estendal de lembranças nos dias de primavera com o cheiro de alfazema guardado nos bolsos por descobrir. Que a minha memória seja contada pelas verdades escondidas.Que o mar me receba sem mágoas de tempestade. Que as nuvens no horizonte, sejam as almofadas dos sonhos que perdi no choro monótono das noites, que fizeram madrugar esperanças no grito guardado no peito. Se eu partir...que as pombas brancas tragam a tranquilidade dos ventos, na lembrança de tudo o que levei comigo para não esquecer que existi...





Célia M Cavaco / Desvios





Imagem : Kasia Derwinska