Abrir um blog de poesia, nada de especial. Mas um blog onde se pode escrever palavras, momentos a partilhar, é um atrevimento, que poderá ser uma ousadia. A minha, onde por instantes viro uma suposta página do meu livro.
terça-feira, 28 de julho de 2015
O som que inunda a sala, os olhos fechados vagueiam por espaços e lugares visitados noutros tempos,noutros lugares. Quase sempre a voz da diva entra com os timbres que enchem o coração de emoção.Na mão, tem o livro aberto com um marcador que trouxe de uma viagem a Veneza. O marcador tem uma dedicatória "Para a minha fiel leitora e amiga de sempre".O nome não interessa,é só uma passagem, um dos muitos encontros repetidos. Quando entrava na livraria o sino dava sinal de entrada de mais um leitor. Foi assim que se conheceram,e foi assim que se despediram,trocando marcadores de livros com uma dedicatória pessoal.A caneta com que escreveu a dedicatória foi mais um presente,que guarda como o maior dos tesouros. Se um dia escrever um livro de memórias será com ela que fará uma dedicatória e enviar-lhe para aquela livraria em Veneza. Pertença de um velho turco, que piscava os olhos indicando o lugar onde se podia sentar e ouvir a Casta Diva,com o livro escolhido.Levava-se horas naquele lugar até a água entrar dentro da casa,o que tornava o lugar ainda mais exótico.Muitas vezes passeavam pela Ponte Del Rialto,ficando tempo sem fim, a trocar os números das páginas que tinham marcado nos livros que trocavam para ler,e assim ambos liam os livros ao mesmo tempo. Veneza de encantos,e de medos. Alguns pareciam ouvir os gritos dos flagelados naqueles túneis subterrâneos(...) depois, ao subir o enamoramento das gondolas fazia esquecer tudo o resto,era como um dejá-vu que ficara lá em baixo.E a Veneza das máscaras, tornava a surgir como um encanto a descobrir nos olhos que escondiam mistérios...
Célia M Cavaco / Desvios
