terça-feira, 21 de junho de 2022


Depois de ti, ou de nós, aquele canto escuro no quarto iluminado apenas pelo lençol branco que cobrirá como a luz d´um só corpo, os nossos, unidos numa doce balada, a noite que se quer pouca iluminada, a lua e as estrelas a iluminar através dos vidros da janela estreita, a musica de fundo, um bolero de Ravel prolonga o que se deseja eterno.
Depois de ti, eu, nós, caminharemos até à porta que deixamos fechada para escutar o respirar dos dois; quando um ouve o outro em simultâneo como dois fugitivos que se escondem nas palavras que se despem. À noite, o silencio, no quarto a ouvirmo-nos um ao outro, a porta continua fechada ,a inercia dos braços pendurados como um só, terna é a noite, eterna é a despedida. A luz da lua e das estrelas esperam pelo amanhecer, os passos que não se adiantam à despedida.
Depois de ti, depois de nós (...) Seguem-se as sombras, a porta por abrir, a boca e o olhar, dois como um só espreitamos as estrelas, a lua amante de todas as aventuras retira-se, dá inicio à madrugada.
Depois de ti, a porta encerra-se e o quarto sem corpos, sem estrelas, sem a luz da lua, o espectro de um corpo curvado à espera de que aconteça a chegada da noite. Tudo se repete, nada se espera, somente a noite reaparece, com ela, o Bolero de Ravel.





Célia M Cavaco, In DESVIOS