segunda-feira, 24 de janeiro de 2022


 

Na intemporalidade do tempo, estão os dias. Vivos ou mortos, os dias seguem continuadamente carregados sem saber das infinitas eventualidades. Viver é um prognóstico reservado.
No corpo vivo, o coração atreve-se a bater mais um dia, o corpo tombado, a alma de mão dada resiste ao desapego.
Sem saber como, a resistência gruda à demanda, deixa o egoísmo ficar quando tudo deixou de existir. Morreu o corpo,a alma ainda respira as palavras que guarda,tudo é passagem, não fosse a memória essa resistente clandestina tudo não passaria tudo de pura invenção.
No corpo a marca do tempo,no tempo,a alma que resiste. Para quê e onde?
Ao longe um túnel,uma carruagem apressa-se à passagem relâmpago sem parar no apeadeiro onde há contagem do tempo que levam os dias como passageiros. O corpo espera pela carruagem do futuro, até lá, vislumbra-se no céu uma pintura celestial onde se separa o tempo e os dias que seguem o que quer que seja sabe-se para que lugar e distância. Para lá do entendimento há existência do corpo que parte sem destino...







Célia Maria Cavaco, In DESVIOS