sexta-feira, 8 de outubro de 2021


 


Quando me perguntas se sou feliz, fico calada a olhar-te olhos nos olhos. No mínimo de tempo possível reages inquieto à esperada resposta. A divagar por todos os gestos que me destes, pelo beijo que ainda sinto, na troca de silêncios amante de todos os verbos, a ternura de olhar-te no reflexo da alma que despe todos os sentidos . A cada gesto de amor cerzido, a intimidade imprevisível leva ao desassossego sentindo sede da tua boca. Se sou feliz?...Por todos os caminhos de lugares vadios, fui tanto de mim, que me permiti entrar no abismo onde o ter, e não ter, dói o silêncio da partida. Dor que não se vê mas sente-se nos braços estendidos no vazio de lugar nenhum.
Se sou feliz?... Nas horas premeditadas espero-te numa extenuante ansiedade de contar o tempo de chegada. Por cada gesto, as mãos entram vuluptuosamente nas pregas do desejo, essa felicidade que nos preenche num delírio embriagado.
Se sou feliz?... Os teus olhos, um lagar de afectos, dão-se ao orvalho húmido da ternura, é por aí...nos pequenos momentos, que me sinto muito além da felicidade, instantes de comovida conquista.
Se sou feliz?...O poema a quatro mãos declama sentimentos cativos como quem canta a melodia de sermos eternamente nós.
Se sou feliz?...Como não ser feliz, se é de ti ,que o corpo livre de embaraços me faz ficar na enredada paixão; despertando em mim um botão de flor sempre que me dás muito de ti num infindável cansaço para me fazeres feliz todos os dias nessa não pressa com que o tempo nos faz viver.






Célia M Cavaco,In Desvios





Arte: Jarek Puczel