sexta-feira, 20 de setembro de 2019






Deixei de ter terra, esse lugar onde nasci
tudo deixou de ser presente
tempo sem espaço para
recordar o muito que já esqueci.
Os laços quebraram-se,os rostos que ainda
recordava foram-se esfumando como nuvens
levadas pelo vento...
ultrapassei fronteiras,deixei de poder
regressar até porque nada tenho de meu naquele
lugar que em tempos voltava,partia e regressava...
O mesmo céu numa distância quase planetária
é como se pertencesse a outro céu que não este
que vejo igualmente azul,mas um azul sem o
o esvoaçar das primeiras andorinhas que se
infiltravam nos beirais,essas sim,retornam à
mesma casa,elas, e,toda uma geração de
andorinhas que continuam a fazer a primavera
acontecer.
Terra de cheiros,paladares cozinhados por mãos
maternais; Terra onde a adolescência deu lugar
à mulher que hoje em idade crepuscular olha pra
longe com nostalgia e serenidade apesar de perda
do muito que tinha como seu...
Hoje,apenas hoje,uma viagem no tempo para recordar
as andorinhas que voltavam ao lugar onde o ninho era
e será a terra onde nasci.



Célia Cavaco,In MOMENTOS ECOLÓGICOS