quinta-feira, 9 de novembro de 2017




Seleccionava no amontoado de papeis quais os que devia rasgar.Cada um finalizava um ciclo,entre os papeis sobressaiu um envelope com a simples indicação: Para ti...
Reteve-o com uma angustia inesperada,sabia,que de algum modo, teria de ganhar animo para poder ler o que estava dentro daquele envelope que por um acaso estava agora nas suas mãos.
«A morte não é nada.Apenas passei para o outro lado do caminho.O que eu era para vocês,continuarei a sê-lo.
Falem comigo como sempre falaram.
Vocês continuam a viver no mundo dos homens,eu estou vivo no mundo do criador,Continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos.O fio não foi cortado.Eu não estou longe,apenas estou do outro lado do caminho. Vocês que ainda aí estão,sigam em frente.A vida continua como sempre foi».

Releu vezes sem conta,como poderia saber uma oração de Santo Agostinho? Logo ele que infernizava constantemente em desafio constante a veracidade de deus e como a vida que acreditava ser só uma, seria na terra que usufruiria em pleno a alegria de viver.Falaram tantas vezes da transição e da maneira que cada um interpretava o afastamento...
Nada é impossível mas era estranho o envelope destinado a si naquele amontoado de papeis.Como soube que iria ser uma partida inesperada? premonição? Tantas perguntas sem resposta.Tanto que ficou por viver...Uma história de amor vivida na plenitude,uma história que ficaria para sempre. Com o passar do tempo apenas uma saudade.Não fosse o envelope não recordaria o dia de hoje,não que estivesse esquecida,mas porque ,sem controlar o curso dos acontecimentos estava a reconstruir sentimentos.
A porta abriu-se devagar,uma gargalhada sonora divertiu-a: Estás a nadar em papéis,ou a levantar o pó? (...) acabou por se rir divertida.A vida continua como sempre.Recomeçar é renascer...








Célia M Cavaco,In Desvios