domingo, 13 de agosto de 2017


Para cima,para baixo calcorreando a rua que subia e descia a correr.As pedras contadas e recontadas 
até dez. Uma porta sem numero,a porta das almas.No final da rua, a casa do perdão.Os sinos e o eco das  Avé- Marias cantadas . A balada das horas na torre das cegonhas.Tudo pela rua abaixo da rua que subia. Os passos do senhor,a comunhão,o casamento no final da rua que era um largo. O cheiro a petróleo,a cantilena,meio litro,meio litro.O balcão gigante,grande demais como se fosse o pé de feijão.Meio...meio...tudo era esquecido.Os tostões para o recado,trazer o troco,não esquecer...meio litro,meio litro.Todo o esquecimento em troca da audácia.
Dão badalão cabeça de cão,para a frente,para trás,um galho na árvore ,o baloiço secreto.O candeeiro sem petróleo.Não tarda a voz de chamamento...Só mais um pouco,dão badalão cabeça de cão. Meio litro de petróleo,a mãe pediu o troco,o troco num papel que servia para curar a tosse. dois tostões de pau de cebo para dar brilho às botas.Tanta coisa para meio palmo de gente.Uma história,um futuro brilhante no meio do caos. Meio litro...o troco...tanto num corpo franzino que era mulher. A laranjeira dos segredos,o choro, o baloiço, o dão badalão cabeça de cão...








Célia M Cavaco,In Desvios
13-8-2016