sábado, 20 de maio de 2017




Duas caixas de tamanhos diferentes foram-lhe entregues em mãos sem remetente. Apenas um bilhete com a indicação do seu nome. Era a destinatária.Cruzou as pernas em flor de lótus,respirou fundo e escolheu uma das caixas,ao abrir,viu apenas um livro,o diário da viagem do Vasco da Gama à índia,as folhas de um branco linho tinham no inicio um lacre dourado. Uma escrita organizada num traço perfeito.Conhecia o livro,tinha um igual na sua biblioteca. Bastou olhar e confirmar que o seu estava na estante.Folheou, entre páginas, fotografias de uma época. Um senhor, aprumado num fato de linho branco, tinha os braços em redor de uma jovem com um vestido branco com flores cor de rosa estampadas no tecido fresco que moldava a juventude do corpo. O vestido estava no seu diário de recordações.Estranhas coincidências,o livro e o vestido...Olhou com atenção cada detalhe da foto como se estivesse no jogo,descubra as diferenças. No pescoço da jovem um pesado colar de pérolas vestia a diferença de idades entre o senhor e a jovem que era apenas uma menina.Outra página,outra foto. A mesma jovem num espaço em branco,apenas o livro repousava nas suas mãos. No final do livro uma dedicatória "Para a única flor do meu jardim".Tomou nas mãos a outra caixa, uma abertura de madre pérola, deslizou sem código. Dentro, todas as pérolas do oceano,as pérolas que cobriam o corpo da jovem mulher da foto anterior. Fechou os olhos,respirou sobre as pérolas,cada uma formava vários colares,brincos ,e anéis que ela mesma usava.Na parte superior da caixa,o tecido vermelho aveludado forrava a tampa,nesta, um envelope preso com um selo lacre. Retirou um papel que flutuou entre os dedos. Leu em voz alta:" Na noite em que as minhas mãos descobriram a rota da seda e das pérolas,o perfume das especiarias embriagou-me os sentidos. Por ti,naveguei pelos mares dos sentidos,por ti, envelheci as palavras de todas as diferenças. Os meus olhos perderam-se num olhar que eram o verde de uma pérola por descobrir .O amor de um,não é o amor de dois.Eis a penitência de não ter aprendido a ler a essência do mar da tranquilidade onde a foz era o pousar de todas as marés"...








Célia M Cavaco,in Desvios




12-6-16