domingo, 30 de abril de 2017




As minhas mãos estão a envelhecer ganhando calos de afectos envelhecidos. Sobram dias para recordar os gestos que embalaram o berço. Amamentaram a vida de esperança fazendo crescer o amor que delas se alimentava num abrigo protector  . As minhas mãos não estão calejadas de enxadas nem de trabalhos forçados. As mãos de ontem fizeram cerzidos de ternura; hoje são afagos em gestos pausados. Sobreviventes dão-se à ternura nos dias de lágrimas.O amor que delas saiu, cresceu, ganhando asas,voaram ao encontro de outros ninhos. Nas minhas mãos contam-se os anos por cada ruga que enfeita a pele. No vermelho,  a púrpura  que ainda embeleza a idade que não têm...











Célia M Cavaco In, Desvios