domingo, 16 de outubro de 2016






Uma cadeira baloiço junto à janela de vidros largos virada para o rio.
Sentada, sem mover gestos,balouçou o corpo como se caminhasse na eira do tempo. As estações passaram deixando marcas no silêncio sem voz .Os cabelos brancos, rugas  de expressão desenham na pele a entrada da idade.Não era velha,apenas uma imagem reflectida no sonho.Sentia o corpo cansado,a cadeira amparava o desgaste que sentia. Fechou os olhos,uma imensa onda de saudade fê-la parar numa rua larga,as portas abriram-se como uma vénia.Vultos saudavam-na como se a conhecessem,tentou empurrar uma porta que lhe parecia familiar. A porta era demasiado pesada,espreitou por uma das janelas. Uma mesa de jantar posta com quatro pratos,a comida fumegava,um a um foram-se sentando.Reconheceu-se num vestido florido,os outros eram crianças irrequietas que comiam num rebuliço infantil. O mais velho de cabelos brancos olhava divertido sem um sorriso. Olharam-se frente a frente.Uma lágrima caiu pelo rosto quando tentou alcançar o rosto.Despertou sem estar a dormir. Tinha de se apressar,breve, chegará ao templo onde todos repousam os versos da vida.










Célia M Cavaco / Desvios