sexta-feira, 8 de outubro de 2021


 

Devagar, sinto o vento, as nuvens a correrem sem que os meus passos se apressem a segui-las...
Esta constante dualidade, este fim que se apressa, tudo tão perto e tão distante nestes dias de fio de prumo medido e contado entre silêncios e gritos que calam a pressa de querer mais que o sonho.
Ir por aí, vida vivida por cores nunca antes usadas, o vermelho sangue, as veias que azulam a pele, a pele que envelhece; o corpo que se deita ao cansaço; o olhar que se perde, mil crepúsculos por pintar, o olhar na ternura que fica.
Tudo perto, tudo tão fora de alcance, a vida por um fio, a manta de retalhos a cobrir o caminho que antes era o primeiro dos caminhos feitos vida quando o corpo frio estremecia à primeira estrela da noite para se aventurar no sono. A vida na lista de espera, o corpo por vestir as cores do Outono.
O silêncio!... Esse sentir único, a mais preciosa música que se
pode ouvir quando mais ninguém nos escuta a não ser nós mesmos. Só o coração sente essa ausência, só o silêncio acolhe a despedida das palavras .Sem poder ir por aí, rumo à procura de abrigo. Devagar!... Sinto o vento e as nuvens com asas de anjos a rumarem a outros céus...





Célia M Cavaco,In DESVIOS





Foto:Céliamcavaco