Abrir um blog de poesia, nada de especial. Mas um blog onde se pode escrever palavras, momentos a partilhar, é um atrevimento, que poderá ser uma ousadia. A minha, onde por instantes viro uma suposta página do meu livro.
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
Naquela porta entreaberta esperava de braços cruzados o passar das horas para sentir a tua chegada. Não era tarde nem noite, os ponteiros do relógio no seu leve tic tac assustavam-me com medo da tua demora ser para o dia seguinte. Quantas vezes não me enrosquei nos próprios braços imaginando-me adormecida nos teus longos e fortes abraços, protectores da minha ansiedade. Não havia promessa alguma,somente a imaginação escreveu um recado lido por mim naquela tarde bem à tardinha de horas mortas do meu querer estar perto como uma ave de regresso ao ninho. Ah,tardes loucas as minhas,que pensamentos vadios eu construí nesse absurdo e inqualificável prazer dado ao tormento que cobria as horas sem fim dessa tarde que me colava à paisagem do ocaso, que chegava bem devagar para não me assustar dessa tua manifesta ausência sem conto nem estória. Tudo imaginação na minha sã loucura de escrever sem saber da tua provável existência. Devaneios construídos num vaivém de vento contrabalançado pelo papagaio de papel que fazia de rosa dos ventos nos cortinados leves e transparentes. Apenas os braços,somente esses contavam em segredo o quanto eu te queria sem promessas nem demoras. Logo na chegada da tarde, chegaria a noite que me entristeceria o olhar sem rumo nem norte. Era apaziguador escrever a história inexplicável dos teus abraços que de tão bem querer, me adormeciam, num infinito prazer adivinhando a tua chegada pela porta entreaberta.Depois o sono,esse chega quase de madrugada com a partida das aves na primeira aurora, onde os raios de sol pintam o horizonte entre a terra e o céu.O mar entrelaçado com as ondas traz a musica necessária para ondular o sonho.
Célia M Cavaco / Desvios
