Abrir um blog de poesia, nada de especial. Mas um blog onde se pode escrever palavras, momentos a partilhar, é um atrevimento, que poderá ser uma ousadia. A minha, onde por instantes viro uma suposta página do meu livro.
terça-feira, 2 de agosto de 2016
(...)
Às vezes apetece-me escrever-te. Dizer-te na escrita coisas parvas para que pudesses rir,e rirmos-nos os dois dessas mesmas coisas sem nexo. Sei que sem estares presente,escutas todas as coisas parvas que falo baixinho,em jeito de oração desfio todas as palavras para escutares nos silêncios contados. Aquelas respostas às coisas parvas de que nos riamos a valer até estendermos-nos cansados do riso que nos sabia bem e fazia bem à nossa maneira despreocupada de ver as coisas que eram por si só parvas. Escrever-te para te contar que o sol continua a entrar na janela de vidros grandes,aquela que deixa o mundo entrar por ali adentro no pino do calor. Que o Tejo continua com a lua cheia a banhar-se pela noite dentro. Que a areia da praia tem aquela cor de oiro e queima a pele.Que mergulho para alcançar o fundo do mar sem respirar; tentar saber o que é sair do corpo sem fechar os olhos e ver o fundo do mar e das ondas que me devolvem à areia...e aperceber-me,que vou voltar a mergulhar no mar onde tantas vezes nadamos em competição.De repente,fiquei sem saber o que escrever, acho que aos poucos vou perdendo a noção da espera. Fiquei no ontem,o teu regresso foi-se espaçando no tempo.Um,dois,três anos é muito tempo.O perfume do frasco diminui,a camisa está passada,as calças no guarda fato ganham vincos de esperar-te. E eu...continuo a escrever-te coisas sem nexo só porque sei que são tão descabidas tal como a tua inesperada ausência.
Célia M Cavaco / Desvios