quinta-feira, 11 de agosto de 2016






As palavras fugiram,deixaram de ter sentido. Por muito que tente,a sensibilidade ausentou-se,foi como despir a pele  há muito emprestada a uma outra forma de sentir . Os sentimentos continuam,mas as palavras tornaram-se inimigas da vontade.Um tango onde os passos descruzam a sintonia perfeita. Palavras sem estação,um deserto na inspiração. Uma dor que dói, palavras desencontradas no tempo. Uma bússola,uma personagem ao encontro das confidências . O significado que não prescinde da beleza,os dedos e as mãos sem texto.Uma escrita de abismo.As palavras precisam de encontros e ausências,tanto, como a noite precisa de todas as fases da lua.O crepúsculo da maturidade necessita encontrar a juventude. O avesso da escrita necessita de amor para se interpretar nos resíduos do esquecimento.Há tempos mortos na linha do tempo. Uma flor  num lugar improvável, o regresso da palavra,o espanto de  existir gestos nas sombras acentuadas da criatividade.A noite e o dia adormecem a ilusão,a transgressão,a purificação do limite,as palavras deambulam na veracidade do tempo que é poema.









Célia M Cavaco / Desvios










Photo: Célia M Cavaco