domingo, 17 de julho de 2016






A cigana persegue-me,conhecia-a há muito tempo. Tinha ela cem anos,curvada,pele fustigada pelo sol que ela teimava em perseguir no areal da praia. Um dia,chegou perto de mim e insistiu ler a sina. Depois de muita recusa ,mostrei-lhe a minha mão,olhou-me assombrada e saiu disparada pela praia do longo areal. Reencontrei-a com a mesma pele envelhecida,as roupas pretas debutadas pela longa permanência naquele calcorrear da praia longa. Devia ter agora cento e cinquenta anos. Olhamo-nos,num frente a frente vi que me reconheceu. Sem ela pedir, estendi a minha mão para que me lesse a sina.Olhou-me longamente, e, encolhendo os ombros, disse-me como se fosse um desabafo. Quem me dera que fosse a menina a ler as linhas da minha mão.Assombrada, perguntei porquê. Respondeu-me,minha querida a menina é filha da lua.E seguiu caminho, no sol que ela persegue insistentemente ora aqui,ora ali,por vezes maltratada pela insistência com que se afirma a querer ganhar uns tostões.








Célia M Cavaco / Desvios