terça-feira, 15 de março de 2016




Não sei ser de outro modo. Mas também não sei como sou. Olho-me ao espelho e vejo tanto. Vejo a criança tímida,a adolescente cheia de sonhos,a mulher que ainda tem ambas as metades dentro de si. A mulher que a idade fez crescer. No olhar, sonhos por concretizar. O espelho devolve um rosto onde a intimidade é mais do que se pode ver ou sentir. A interioridade é como pétalas de rosas caírem antes de serem botão. 
A mão acaricia o rosto.Numa leve carícia sente na pele a madura idade. Tudo passa tão rápido. Logo estará a perguntar-se onde está o rosto de hoje. O de ontem perdeu-o sem dar por isso. E os cabelos? Outra transformação iminente,é como uma previsão de queda de neve. Já o corpo,esse, tem dias imprevisíveis. É como uma montanha russa,mete medo,mas aguenta firme o desgaste. Não sei porque tenho medo. Os medos assustam-me como tempo de trovoada. Aninho-me em posição fetal e escudo-me no silêncio de todas as tempestades.








Célia M Cavaco / Desvios









Photo: Tigran Tsitoghdz