Abrir um blog de poesia, nada de especial. Mas um blog onde se pode escrever palavras, momentos a partilhar, é um atrevimento, que poderá ser uma ousadia. A minha, onde por instantes viro uma suposta página do meu livro.
quinta-feira, 24 de março de 2016
A gente se acostuma. Nós nos acostumamos à falta de riso,à falta do choro. Chorar faz falta, rir faz falta. Rir leva-nos às lágrimas,chorar também pode ser alegria. A gente se acostuma a tudo,até a sermos diferentes de nós mesmos com o passar dos anos.É tudo uma questão de hábito.Eu já não consigo rir até às lágrimas. Choro pelo luto, ou por coisas insignificantes. Mudei,mudei o riso,mudei as lágrimas. Choro muitas vezes só, porque as minhas lágrimas são tímidas,envergonham-se de se mostrar . Já o meu riso,tornou-se mais claro,acho que é nervoso,sim,o meu riso não é aquela gargalhada feliz,é antes um riso pálido.Porque rir é sinónimo de felicidade,mas estar feliz é perigoso.O mundo não gosta de gente feliz,nem de gente com lágrimas,muito menos de gente que se ri de si mesmo ou dos outros . Tornou-se perigoso rir,chorar,ou ser feliz. Algumas pessoas não gostam de si mesmas. A gente se acostuma à violência na TV ,ou a ver a guerra em directo.Como podemos mostrar felicidade? Riso ou lágrimas? Não,não podemos.Temos de chorar dentro do peito. Temos de saber sofrer,porque é isso que faz falta para nos tornarmos sobreviventes. Eu nem sei como ainda consigo rir de tudo ou de quase tudo .Talvez porque chorar também provoca riso,e rir é ainda a utopia de um sonho feliz.
Célia M Cavaco / Desvios
Arte: Wojetek Siudmak
