segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016





Porque tocam os sinos? De certeza vai chover,o vento sul, o vento oeste tráz o cheiro anunciado da terra molhada .Ouve-se o comboio, será pronuncio de chuva? Tantas incertezas a adivinhar a natureza,quando só ela é a rainha do mundo. E eu, despida de roupa,vestida de estações de vida. A minha chuva, são lágrimas de frustração e desencanto. Os meus olhos cegam-se nas tempestades imprevisíveis.Há todo um medo inexplicável, as folhas do outono pintam ainda o chão neste inverno meio primavera. Os cabelos estão a ganhar a cor das primeiras neves,salpicos frios de água que gelam antes de cair...Um vale de emoções descritas no sentimento tempo,a velocidade espantosa de que tudo foi rápido demais. As minhas tranças,os meus cabelos pretos em cachos agrestes, doridos no pentear rápido, nas mãos de minha mãe. A boneca que não cheguei a dar-lhe nome...Falta-me o tempo que não sei onde o perdi.Talvez o tivesse vivido sem me aperceber que acordada também se viviam  sonhos.Por ai,sem estrada feita, tornei-me errante sem escrita,sem imagens guardadas que possam contar a minha existência. Tudo em vão,as cartas que escrevi estão numa caixa de pandora. Nunca as enviei,não tinha destinatários,eram apenas personagens inventadas nas minhas estórias sem história contínua,apenas rascunhos do que passei, lugares meus, passos lentos que atrasei para não fazer estrada. O meu arco-íris,vejo-o na calma que procuro na meditação. A paz interior, por instantes convive com o meu outro "Eu". Uma luta de titãs,sou,procuro diálogos na visualização de um mundo quase perfeito. Uma utopia terapeutica,apenas procuro  a sensação de me conhecer noutras vidas. Andei pelo mundo procurando-me nos rostos figurantes de feiras e palácios. Fui,sou,errante de mim mesma.Só estou, onde consigo estar, no vale verdejante da tranquilidade imaginada do possível nada.... Nada tenho,nada sou.Uma passagem de vida,sem diário, nem testamento...Vivo procurando emoções que me façam acreditar que ainda tenho tempo para me conhecer neste mundo em transformação. Sou, papel, onde  a história ainda agora recomeçou a ser contada ( ... ).











Célia M Cavaco / Desvios











Photo : Emma Silk