quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016





Não sei do tempo que foi deslumbre do meu olhar. Passou tanto tempo desse mesmo tempo,que sinto nostalgia, quanto foi,se foi,se sonhei que houve mesmo um tempo, em que podia ter todo o tempo do mundo. São dias, meses,anos, que perfazem um labirinto de memórias de um tempo sem tempo. Não sei,perdi a noção do que me era permitido saber para gerir o escasso tempo de vida que me foi dado para viver. Cada momento foi único. Cada imagem de rostos,gestos,cheiros e palavras...Pinto-as numa tela gigante, uma mistura de cores que fazem as estações desse meu tempo. É meu,apesar de nessas cores haver outras pequenas lembranças que sobram. O tempo também se sobra para estender-se às recordações. Se tiver tempo, bordo num lenço imaculado outras cores em fios de seda. A cada dia que passa,descubro no tempo a minha arte de viver as palavras que guardo no meu livro inacabado.O livro da vida,esse mesmo que tem no final algo que não escrevi. Mas se tivesse oportunidade de ler a ultima página,gostaria que tivesse um final idêntico ao que me foi dado a viver junto dos que comigo caminharam lado a lado.Um desenho de uma estrada com um horizonte em cores de outono. Escolheria o título."Depois de tudo" Afinal metade do tempo foi meu,vivi-o com escolhas conscientes. Outras ao acaso, aceitei como um todo da minha própria personalidade e aprendizagem. Tantas rosas,tantos espinhos foram desviados do meu percurso. Foi como se alguém plantasse nos canteiros  rosas perfeitas. As que me eram destinadas a pegar sem me picar...O tempo,um trabalho extenso de retalhos e atalhos.Um patchwork final,uma manta que aquece o corpo frio nas longas noites onde cerzir o pensamento acaba por juntar pontas soltas. As horas escoam, por entre os dedos  raios de sol num acordar nocturno.O tempo é hoje.Um recomeço da manhã que foi ontem. Ou será  outra vez amanhã? O futuro incerto deste tempo que me arrasta!?...











Célia M Cavaco / Desvios











Arte: John Tarahteeff