sexta-feira, 15 de janeiro de 2016





Há sempre um dia em que tudo parece estar diferente; Acordar, e ver que no vaso onde só havia folhas verdes, nasceu uma flor fora de época.A janela da vizinha da frente, fechada como se não morasse lá viva alma.
A árvore de borracha tombada como se tivesse sido fustigada por um remoinho de vento. A janela que espreita o Tejo,tem ao fundo uma ponte sem outra margem. Quem passa, vai apressada como se o comboio estivesse parado num apiadeiro com o Pare,Escute e Olhe. O frio que arrefece o corpo quente saído da cama. Ajeitar os cabelos revoltosos da noite mal dormida. Acordar o corpo desajeitado como uma marioneta de fios invisíveis. O acordar das gentes que procura abrigar-se do frio inverno nos agasalhos colados à alma. O fado cantado pelo cego do acordeão. A rua multicolor com os corações a soltarem o quente dos afectos.Ver a vida através de um olhar para o mundo,um mundo de escrita de palavras de romance.Porque hoje as palavras formam um labirinto,um romance que começa numa manhã com o embarque das personagens na arca da primeira estrofe.
(...)
Era um dia como tantos outros,o frio saía com o bafo da respiração numa chávena de chá...A clarividência, o elemento de toda uma memória que escreve a intensidade nostálgica de um dia. Era um dia como tantos outros, apenas... um dia mais...











Célia M Cavaco / Desvios










Photo: Todd Wall