quarta-feira, 27 de janeiro de 2016








De tantos lugares,um prendeu-lhe o olhar. Passava por ali tantas vezes,que se esquecia que alguém mais pudesse estar a observá-la.Foi numa dessas raras distracções que o olhar se cruzou num rosto disfarçado por uma câmara fotográfica. Ficou em pânico,nunca se sentia bem perante uma objectiva,sentia que lhe roubavam a alma,a sensibilidade , tudo o que ela tentava esconder atrás de um olhar.Quem a conhecia,olhava-a directamente para os olhos,eram eles o seu espelho de alma.As suas fragilidades espelhavam-se nos olhos nostálgicos. Sempre escondeu o seu mundo que muito poucos sabiam decifrar. Incomodada, saiu do seu recanto fechando o livro,esquecendo-se até de marcar a página que estava a ler. Pensou que quando voltasse àquele lugar mudaria a sua escolha. Esconder-se-ia num outro recanto onde estaria a salvo de olhares curiosos,não que tivesse algo a esconder,mas gostava daquele momento de solidão onde todos os dias lia os seus livros. Mesmo assim,olhou em redor para se certificar que estava só. De passos leves como se tivesse medo de acordar os ruídos que a cercavam.Sentou-se na relva inspirando o ar dos eucaliptos, acácias,e até mesmo os medronheiros...estranha Primavera em pleno inverno. Embrenhou-se na leitura.Após o tempo de descanso,tempo que reservava para si mesma, levantou-se, e olhou o banco de pedra ali mesmo ao seu lado. Em cima do banco estava uma flor,com um envelope e a seguinte inscrição: Abre,é para ti. Ainda que a medo,a tentação superou a curiosidade. Dentro, estava uma foto com o título : A solidão no mundo dos livros...
Com a foto,marcou a página que leria no dia seguinte voltando ao lugar de sempre.Não há que ter medo de quem sem nos conhecer lê um outro lado, dando sem querer um título." A capa dura dum livro tem fragilidades aparentes"...










Célia M Cavaco,In DESVIOS 









Photo / Brigitta Szontagh