terça-feira, 10 de novembro de 2015






Há dias em que tudo é neblina, sem horizonte definido. As cores do nascer do sol,esbatem-se na bruma, qual floresta onde o medo é causado pelos sons da natureza. Se fosse um pássaro, a querer sair do ninho,teria de certeza, mais ousadia do que a coragem que hoje perdeu lugar,apanágio da frontalidade com que se aprende a viver e a sobreviver nas catástrofes emocionais. A fragilidade impôs-se,deu lugar àquele recanto onde recolhemos a saudade de tudo o que foi.Sem darmos por isso,perde-se no tempo,tudo aquilo que pensávamos ser eterno. O natal,o natal da ansiedade, não querer dormir, porque o menino Jesus iria pôr no sapatinho os presentes colocados na chaminé alta,tão alta como o gigante da história do João feijão.Olhando de baixo,parecia que a chaminé tocava o céu. Devia ser o céu onde o menino Jesus morava e visitava as crianças bem comportadas na época natalícia.Depois o dia de Reis,o sapatinho voltava à chaminé para receber uma moedas e uma romã,símbolo de riqueza para todo o ano. Crescemos, o menino Jesus, deu lugar ao velhinho de barbas brancas, que caía da chaminé, sempre que uma criança lhe escrevia uma carta com um rol de pedidos, afirmando o seu bom comportamento ao longo do ano.Depois,por algum motivo,ou até conversas em trocadilho,ficava-se a saber que o Pai Natal eram os nossos pais.Que mesmo sem poderem, continuavam a perpetuar a história com uma alegria infantil,da criança que nem chegaram a ser...
A azáfama na cozinha,a massa que tinha de levedar para fazer as filhós,os sonhos,que levavam todos os ovos para serem mesmo sonhos,fofos e doces;Cobertos de açúcar e canela,as fatias douradas...as rabanadas
,o mesmo doce com outro nome,acabadas de fritar, davam o toque final na mesa, depois da ceia do bacalhau com as batatas e as couves compradas de vésperas por causa da inflação. Tudo isto parece tão distante,só ficaram os cheiros e os múltiplos paladares que fazem crescer água na boca. A mesa com a melhor toalha;os pratos contados,não fossem ultrapassar o número treze,os copos para brindar ao futuro natal,desejando saúde e bem estar para estarem todos presentes no natal seguinte...
E assim,foram passando os anos;Onde estão todos aqueles que fizeram o natal ser o melhor de todos? Onde estarão os outros que cresceram com o novo natal? Aquele natal sem cheiros,sem sabores, sem o perfume da lenha nas roupas novas? Aquele natal de hoje...Adeus,passa bem,e até para o ano... A mesa vazia de saudades e ausências...O natal sem o menino Jesus!... Todos cresceram,todos se ausentaram...A  mesa posta com dois pratos, e dois lugares apenas...






Célia M Cavaco / Desvios