segunda-feira, 14 de setembro de 2015




(...)

Foi precisamente numas férias escolares que conheceu o amor da sua vida. Apesar de criança,olhou para alguém diferente dos demais,feições finas e elegantes,falava o português normal,até falava francês...
As férias acabaram por ser diferentes,o choro da partida deu lugar a risos e a troca de bilhetinhos escondidos. As férias terminaram,esqueceu o namorico de verão. Uns anos depois,voltou à aldeia e não viu o rapaz com quem trocara bilhetes escondidos. O verão foi monótono, as crianças na aldeia trabalhavam no campo.Ficava a ler as aventuras dos cinco até à hora de se deitar, tudo era aborrecido,deixou de gostar da aldeia. Não se identificava com nada, naquele lugar onde judas perdera as botas.Era assim que reclamava entre dentes,para ninguém ouvir a sua mágoa. Quase no final das férias,um grande alarido na aldeia despertou-lhe a atenção. Disfarçada a curiosidade que aprendera a ter como todos os da terra,olhou para o carro que parara à porta. Saiu do carro, o rapaz dos bilhetes escondidos,olharam-se e reconheceram-se. Cumprimentaram-se,não falaram muito porque ficava feio uma jovem dirigir a palavra ao rapaz que não fosse namorado. Enfim,coisas da aldeia. À noite,onde todos se juntavam para conversar,jogar às cartas e matar o tempo,o rapaz dirigiu-lhe a palavra,não se esquecera das tranças pretas,nem do tédio que fazia gala em mostrar por ali estar contrariada. Os dias que se seguiram passaram depressa demais,aprendera a gostar do rapaz da aldeia,que todos respeitavam pela elegante educação. Despediram-se com a promessa de não perderem o contacto. Um dia,reencontraram-se num local de passagem,pararam,olharam-se e ficaram a saber o quanto gostavam um do outro. Nada demais...casaram e foram felizes. A aldeia durante anos ficou fora das férias,outras viagens outras paragens fizeram rota nas suas vidas. Até hoje,que se lembrou de recordar como tudo começou...



" Era uma vez, uma aldeia perdida no fundo do vale"






Célia M Cavaco / Desvios