Abrir um blog de poesia, nada de especial. Mas um blog onde se pode escrever palavras, momentos a partilhar, é um atrevimento, que poderá ser uma ousadia. A minha, onde por instantes viro uma suposta página do meu livro.
domingo, 28 de junho de 2015
Uma janela,uma história.Cada janela que possamos olhar,tem no interior uma ou várias personagens. Nesta janela virada para o mar,numa casa muito velha contava-se sempre a mesma história. Uma jovem que se apaixonara perdidamente por um pescador. Amor descoberto pelo pai da jovem,que a castigou fechando-a no quarto.Só ele tinha a chave.A jovem,que ainda era muito menina, pensou fugir para se juntar ao seu amado.O seu plano foi descoberto.O castigo foi ainda maior,o pai mandou tapar as janelas do seu quarto com tijolos. A jovem adoeceu.O pescador soube-se mais tarde que emigrara para o Brasil. Fez grande fortuna por lá,nunca casara porque o seu grande e único amor era aquela jovem menina a quem apenas num único dia se atrevera a olhar para ela,quando ela olhou para o mar onde ele entregava o coração para sustentar sua mãe.Anos se passaram,o antigo pescador lembrou-se de ir ver a antiga casa da sua jovem amada.A casa,era agora muito mais velha e triste.Tentou saber,sobre a família que morara ou morava naquela casa velha.Ninguém queria responder,era como uma maldição...
Curioso,voltou à noite para ver se havia luzes naquelas janelas.Só então reparou nas duas janelas tapadas por tijolos. Foi um choque,sabia que ali era o quarto da jovem.Sentou-se por baixo da janela cansado,pois os anos tinham passado e o coração dava sinais de estar fraco.Após algum tempo,pareceu-lhe ouvir uma voz jovem a falar baixinho. Esperei por ti,tantos anos como os que consegui contar nas contas do meu rosário.Fiz novenas,rezei as dezenas;agora,sinto-te ai bem perto da janela,e eu aqui trancada...
Começou a chorar,e respondeu-lhe:
Espera por mim,que vou ao mar. No dia seguinte,encontraram o corpo do jovem pescador na areia da praia,ao seu lado, um vestido de noiva rasgado,mas com cheiro a flores de laranjeira..
Célia M Cavaco / Desvios
