sexta-feira, 29 de outubro de 2021


 


Fala comigo! Estás nesse silêncio sem resposta, inquietas-me, fazes com o teu silêncio o mesmo que os teus olhos, param no abstracto para escutarem os teus devaneios que queres longe de ti, tanto silencio no teu olhar perdido no horizonte. Fala comigo! Diz-me o que te inquieta, fala-me desse desassossego que calas num consentido olhar distante. Tão distante que tenho medo da tua partida, se partires, nesse teu silêncio de estrada, conta-me a viagem das tuas palavras que ficaram por dizer, escreve com o coração, deixa a razão.
Estarei na estação das palavras à espera dos teus passos de regresso. À noite, fecharei os olhos para sonhar, dormir contigo ao meu lado. De devagar acolher-te-ei nos meus braços, um apeadeiro que muito te agradava para conseguires adormecer no nosso manto de estrelas. Lembro ser esse o teu olhar quando no silêncio os teus olhos falavam, sem ousares partir do meu peito, ali descansavas todos os teus segredos. Sem nada dizeres, ouvia-te no sossego o beijo que dizia tanto.
Fala comigo desse amor promessa. Fala-me desse silêncio para que eu possa caminhar também escutando o que silenciosamente calas. Os teus olhos declamam gestos, a tua boca cala, o teu olhar na minha alma viajante espera-te todas as noites para adormecer no único sonho que não cheguei a escrever (...)








Célia M Cavaco, In DESVIOS





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