segunda-feira, 23 de maio de 2016




Quando a lua enche de luz o quarto desabitado,a porta range dando entrada à noite que vem pernoitar nas sombras de cada objecto espalhado pela casa abandonada.Em cada estante um livro,e outros tantos, decoram as paredes de papel vitoriano, marca de outros tempos. Em cada camilha uma moldura de época,no sofá desbotado na cor primitiva,uns óculos e a bíblia aberta no salmo noventa um, sublinhado a caneta de aparo onde o borrão do tempo enaltece a velha marca de tinta sépia "que te guardem nos teus caminhos". Que caminhos existirão naquela sala? Onde estão os risos,os cheiros,e...as valsas? Os cristais,as velas, os castiçais que segredavam alcovas? E corredores de portas fechadas com o cheiro de alfazema nas rendas escondidas na intimidade feminina? Tanto por descobrir, quando se espreita nos vidros sujos de séculos de abandono. No meio da sala, o piano toca segredos a quatro mãos,as teias de aranha abrem-se em cortinas de vento. As vozes sussurram entre si aromas de chá da Índia.











Célia M Cavaco / Desvios









Photo: Google