sexta-feira, 29 de janeiro de 2016






Perdeu tudo o que tinha a perder.O riso, as lágrimas,os sonhos...Tudo se desfez num sonho menos bom. O rosto,as mãos,sobretudo as mãos perderam a vivacidade,a energia de prender o que quer que fosse.O corpo ainda se mexe num andar arrastado. Mas as mãos não,essas ficaram inertes ao acariciar o rosto estranho da velhice que não reconhece. As mãos que cortaram o cordão umbilical, amamentaram, escreveram, e fizeram amor tantas vezes, outras tantas, fechara a porta à infelicidade... Sempre fora feliz,uma felicidade sem ambições. Uma felicidade de solidão,mas não solitária.Era este o estado de ânimo, ao acordar do sono que vagueou ao inesperado futuro ainda distante. As mãos,olhou-as com um sorriso.Despertou-lhes os gestos.Um deles, o principal, desenhar, contornar com os dedos o rosto que dorme calma e serenamente ao lado; Onde o sol todos os dias nasce.Um sorriso,uma manhã como todas as outras que serão certamente iguais...Nas mãos, o baptismo do acordar aprendendo a ser feliz...









Célia M Cavaco / Desvios










Arte: Carrie Vielle