Abrir um blog de poesia, nada de especial. Mas um blog onde se pode escrever palavras, momentos a partilhar, é um atrevimento, que poderá ser uma ousadia. A minha, onde por instantes viro uma suposta página do meu livro.
quarta-feira, 1 de julho de 2015
Queria escrever-te...
Contar-te que as flores de amendoeira ,este ano não pintaram a paisagem de branco.
Que desenhei um mapa para quando regressasses à casa da "Rosa Dos Ventos"o usasses como bússola.Que o mar está agitado pelas marés de Setembro.Falar-te de todos os meus sonhos,sonhos em que acordo sobressaltada pelos ventos que desenham figuras assustadores pelos ramos das árvores nos vidros das janelas.
Dizer-te que ouço Chopin, numa sonolência,com o teu livro preferido nas mãos.Que ainda te espero na cadeira de lona às riscas azuis e brancas debutadas por mil sóis e mil luas.
Que os jornais continuam pelas manhãs a amontoarem-se na tua secretária...
Meu amor,queria tanto contar-te os meus dias.Mas tudo está igual como quando partiste,a paisagem,a casa,até os vizinhos são os mesmos.Só eu meu amor estou diferente,tenho os cabelos brancos apanhados num penteado menos jovem. Só eu meu amor,envelheci como esta folha de papel amarelecida onde tento escrever-te...
Ainda falta contar-te do búzio,aquele?lembraste?...o que apanhamos numa praia deserta,em que éramos nós e o mar; a
casinha branca com o cadeado e os arbustos queimados pela brisa do mar. O búzio ainda o uso para ouvir o mar,o mar que está tão longe como os teus passos. E eu aqui sentada na cadeira de lona às riscas azuis e brancas debutada pelo tempo...
Célia M Cavaco / Desvios
