domingo, 19 de julho de 2015





As janelas escancararam-se pela força do vento. Sobressaltada pelo barulho correu a fechá-las. Olhou para lá dos vidros que estavam molhados pela chuva. E viu-o parado no passeio a olhar o mar que ficava numa curta distância de metros. A sua casa ficara às escuras,por isso podia observar sem que dessem pela sua presença.
Continuou a observar o vulto,que de certeza estava encharcado. Pensou chamá-lo para que se abrigasse do temporal,mas,a voz perdeu-se no som. Era estranho,mas gostava de o ver inserido na paisagem. O mar,a chuva,o vento e ele como figura humana, solitária naquela tarde de domingo de Páscoa. Possivelmente outro que como ela não festejara o almoço em família; ou então não tinha religião para festejar a ressurreição de Cristo que morrera crucificado  para salvar os pecadores. Tivera uma educação religiosa muito intimista ,ganhara medos,tudo levava ao pecado e ao inferno. Quando cresceu,tentou perceber outras crenças mas de alguma forma,havia sempre o castigo de Deus. Tornou-se rebelde,não acreditava num Deus que castigava .Que pai desejava ver seus filhos arderem num local de chamas que consumiam gritos de desespero? sendo esse o cenário pintado em gravuras bíblicas! Ainda hoje,afastada de qualquer religião,e sempre que se sente ameaçada por tempestades emocionais,dá por si a pedir ajuda divina. Restos de educação religiosa dada por uma catequista fanática,que nunca esqueceu.
Voltou a olhar, para o homem ainda parado com as mãos nos bolsos à beira mar. Possivelmente estaria enfrentando os seus medos. A ela,cabia a tarefa de o proteger com uma oração...






Célia M Cavaco / Desvios