quarta-feira, 15 de dezembro de 2021


 

Há quem não goste da azáfama da nossa Lisboa, há quem afirme que se tornou um caos passear por Lisboa.
A Lisboa que eu amo tem o mesmo encanto dos meus treze anos, a primeira vez olhei para o seu encanto, aquele burburinho de quem atravessa o Terreiro do Paço, a rua grande com corredores de gente apressada e atrasada para os seus locais de trabalho, eu, nos meus treze anos apesar de ser menina da cidade olho com olhos de espanto os armazéns do Chiado, a prima que viera de propósito fazer compras, levava-me a reboque, queria olhar para tudo, a secção dos botões era um mundo de faz de conta, pérolas, madre pérolas, botões forrados com tecidos mais finos que jamais os meus olhos tinham visto. Tudo era elegante e majestoso ao meu olhar de adolescente. No final das compras perguntaram à minha prima que falava com sotaque francês e tinha cabelo louro penteado à moda da Brigitte Bardot. A senhora quer que envie para o hotel ou que lhe levem ao carro?
Qual hotel, qual carro? Nós tínhamos vindo de comboio e atravessado o Tejo. A prima tinha carro sim, um boca de sapo que ficara parado à porta de casa por não se sentir capaz de conduzir na grande capital.
Hoje ,a anos luz dos meus treze anos continuo a olhar com igual espanto para a minha Lisboa, há diferença dessa Lisboa que conheci, mas continuo a gostar de entrar na Nacional, olhar para o teatro D.Maria II ,a Av. da Liberdade, o Chiado sem o glamour de antes mas não deixa de ser o Chiado, a Rua Augusta, a Rua do Ouro, a Praça da Figueira (...) Hoje, descubro uma outra Lisboa, ruas pequenas e cheias de falas diferentes, há cheiros de caril, canela e gengibre, há cheiros dum mundo à parte que ali habita. Ainda que pouco limpa não deixa de ser a minha Lisboa. Pela Mouraria subo e desço ,as Igrejas que não conhecia, o fado que não gostava, as roupas aglomeradas nos parapeitos das janelas...todo um mundo esta minha Lisboa. Um senão nesta minha querida Lisboa, quis dar um pulo até à Suiça, não dei conta que há muito deixou de existir, agora, apenas uma parede com janelas fictícias à espera de ser mais um hotel. Dizem que o turismo está a destruir Lisboa, será? Que será de Lisboa ou o nosso Portugal sem o turismo? Causa e efeitos necessários nesta Lisboa cosmopolita ,nesta Lisboa que eu Amo, de tudo, é ainda a menina e moça com suas roupas de varina nas sete colinas vestida de sol e cor esta Lisboa à Beira do rio Tejo com o seu cais das Colunas.




Célia M Cavaco, In Desvios

Foto: Cmcavaco