domingo, 15 de julho de 2018



Os anos passam,os dias,as horas...é nas horas da tarde quando começa o anoitecer que dou por mim a recordar todos os que de algum modo fizeram parte do meu crescimento.
A minha mãe sempre trabalhou,lembro-me de pequena ela sair para o trabalho,naquele tempo era trabalho e não emprego como hoje lhe dão nome. Lembro de ficar sentada no degrau da porta,não me era permitido sair daquele lugar até que ela regressasse.Era uma criança tímida e solitária,tinha mais ou menos quatro anos.Recordo muito desse trabalho da minha mãe,anos mais tarde soube que a minha mãe via-me da janela da cozinha do local onde trabalhava.Era cozinheira,a minha mãe sempre foi cozinheira.Depois desse emprego teve um outro no café mais emblemático da cidade.A minha mãe nunca comia nada que não gostasse,e o leite era um dos alimentos que lhe embrulhava o estômago como ela dizia.Pela tardinha, quando a ia visitar, ela fazia-me beber quase meio litro de leite morno numa assentada.Hoje ainda não consigo beber leite.Depois desse emprego a senhora minha mãe foi trabalhar como cozinheira para uma outra casa onde trabalhou quase até se reformar.Dessa casa tenho as melhores recordações.Era filha da Dona Odete,e não da empregada.Desse tempo,recordo as quintas feiras,nesse dia, um dos pratos a ser servidos era o arroz de cabidela,como gostava do arroz acabadinho de fazer,tinha de ser malandrinho para ser perfeito . Com ordem do dono da casa a minha mãe dava-me um pratinho de sobremesa com o delicioso manjar.Hoje tento fazê-lo com toda a memória palativa.Desse tempo,e porque estamos na época do melão recordo quando o Senhor Manuel partia a primeira fatia com todo um cerimonial muito cuidado.A mim cabia-me uma fatia que eu comia gulosamente.Só ali havia melão de casca verde,há relativamente pouco tempo soube que se chama melão de casca de sapo.Ainda hoje recordo da iguaria que o senhor Manuel partilhava comigo.Desse tempo,recordo o meu primeiro vestido feito pela melhor modista lá da rua.Um vestido de rosa velho muito in para uma criança.A filha do senhor Manuel tinha -me convidado para estar presente no copo de água.Uma senhora que recordo constantemente sempre que ouço o Tombe lá Neige.Lembro-me de ficar calada a seu lado enquanto ela ficava a olhar para a televisão onde o cantor Adamo fazia a deliciosa interpretação. Mais tarde,o mesmo vestido serviu para outro casamento de uma outra filha do senhor Manuel.O tempo passa,o tempo passou e, continuo a recordar-me de todas lembranças que me ajudam a ter memórias.Hoje foi assim...hoje,sempre!...







Célia M Cavaco,In Desvios