terça-feira, 27 de setembro de 2016











Uma tarde como todas as outras. A diferença é que era diferente de outras tardes sentira-o desde manhã ao acordar,um presságio... O corpo deitado sobre o corpo,os braços presos aos abraços da almofada . Estar sem estar no corpo que deixara de estar dentro de si.Queria abrir os olhos,ver,sentir que estava intacta no corpo fragmentado.Sentia que devia gritar, que estava viva,viva dentro do corpo que deixara a alma escapar por um fio,um sopro,um ritmo cardíaco sem pulso.Aquela tarde igual a tantas outras que de mansinho deixara de se ouvir no respirar. Sustinha a respiração para ouvir o outro lado da luz. O interruptor estava ao alcance da mão vazia,os dedos dobrados guardavam o ar que devia respirar. Mexeu-se para se levantar,uns braços estenderam-se ao alcance do seu olhar. Olharam-se num confronto divino,o peso do corpo levitou acima de si.Os braços cruzaram-se em profunda obediência. Os cânticos ouviram-se do lado de fora,o corpo descansou,o sono levitou-se ao altíssimo.









Célia M Cavaco / Desvios