quinta-feira, 27 de agosto de 2015




Na fotografia esqueço,na memória reinvento o rosto que a saudade esquece.
No álbum evoco o tempo das imagens. Tudo é diferente,tudo é igual. A casa é a mesma,as pequenas coisas permanecem nos mesmos lugares. Tudo faz parte de um cenário construído ao longo dos anos. Cada peça tem a sua história. Cada viagem foi uma ida com regresso.O olhar,o pegar em cada caixa é como regressar aos lugares que se visitou. A cadeira forrada,com o tecido comprado num mercado de rua, é a mesma onde tantas vezes leio o livro que compramos juntos no alfarrobista em Londres. O livro da escritora Anne Perry,a escritora de policiais da época vitoriana. Depois de ler o primeiro,não mais parei de ler todos os outros.Perdia-me no enredo policial.Nunca sabia quem era o assassino senão na última página.Foi o começo de tudo.A paixão,a pesquisa de querer saber mais sobre a época Vitoriana. Às vezes, até me reencontro nos lugares.As salas com os cortinados de veludo.O serviço de chá com as pequenas flores. A leitura em voz alta nos serões após o jantar. O piano de cauda, no canto da sala de visitas.Tudo ao pormenor.Retornar às lembranças, no espaço decorado por ambos.O livro,a página assinalada com o bilhete do último concerto do Leonard Cohen.A data marca a passagem do tempo. Um de nós, ficou para continuar a abrir o álbum de memórias até um dia ser encontrado na cadeira forrada com tecido comprado num mercado de rua...








Célia M Cavaco / Desvios